Peter Schäfer, diretor do museu, foi pressionado a renunciar por ter apoiado pelo Twitter uma petição de intelectuais judeus, favorável ao movimento BDS, de boicote econômico e cultural a Israel.
- Rostos enferrujados trazem sensação de dor ao visitante do museu
O Museu Judaico de Berlim já vinha sofrendo pressões da parte do primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu, por ter realizado uma exposição sobre Jerusalém, que apresentava “um ponto de vista muçulmano-palestino”, segundo relato de Noa Landau, publicado no Haaretz. Netanyahu já teria cobrado anteriormente de Angela Merkel o fim das subvenções ao museu, bem como ao Festival Internacional de Cinema de Berlim e a algumas organizações cristãs, por supostas “atividades anti-Israel, como apoiar o terrorismo palestino, defender o boicote ao Estado de Israel, e acusar as forças de defesa israelenses de cometerem crimes de guerra”
O abaixo-assinado que resultou na renúncia de Schäfer, foi assinado por 240 intelectuais judeus, incluindo Avraham Burg, pacifista, ex-membro do parlamento de Israel, e Eva Illouz, socióloga conceituada e professora titular de sociologia da Universidade Hebraica de Jerusalém. A petição pede ao governo alemão que não implemente a moção aprovada no parlamento alemão que define o movimento BDS, de boicote econômico e cultural, como sendo antissemita. A moção foi aprovada com amplo apoio de vários partidos, e declara ainda que colocar adesivos de “Não Compre” em produtos israelenses evoca o slogan nazista “Não Compre de Judeus”.
A petição assinada pelos intelectuais judeus defende a liberdade de opinião, e que “boicotes são uma forma legítima de resistência”. O texto argumenta ainda em favor da continuação do apoio financeiro a organizações israelenses e palestinas que “contestam pacificamente a ocupação israelense, expondo graves violações das leis internacionais, e fortalecendo a sociedade civil”.
Cada vez mais, fica evidenciado que é crescente a resistência no meio judaico às políticas de Netanyahu, que vem impedindo o andamento de negociações que levem à obtenção de um acordo de paz no Oriente Médio, em que sejam reparadas as injustiças históricas cometidas contra o povo palestino pelo sionismo, desde a fundação do Estado de Israel. Resta ver o alcance da repercussão do afastamento de Peter Schäfer.
Peter Schäfer é um renomado estudioso de assuntos judaicos, doutor honoris causa pela Universidade de Utrecht e de Tel Aviv. Ocupou o cargo de diretor do programa de estudos judaicos em Princeton, tendo recebido diversos prêmios e honrarias. Em 2006 recebeu o “Mellon Award”, o principal reconhecimento para estudiosos de humanidades nos Estados Unidos, por seu trabalho acadêmico e iniciativas de revitalizar a tradição dos estudos judaicos na Alemanha. Vários outros prêmios de prestígio foram obtidos na Alemanha.
O Museu Judaico de Berlim
O primeiro Museu Judaico data de 24 de janeiro de 1933, poucos dias antes do Partido Nazista chegar ao poder. O museu veio a ser fechado pela Gestapo em de 10 de novembro de 1938, durante o que ficou conhecido como a infame Noite dos Cristais, parte do pogrom (ataque ou perseguição, em russo), em que naqueles dias de novembro, os nazistas cometeram violentos atos de vandalismo contra sinagogas e propriedades da comunidade judaica, e que resultaram em dezenas de mortes. O prédio em estilo barroco veio a abrigar o Museu de Berlim, e foi apenas em 1979 que um Departamento Judaico foi estabelecido no museu. No entanto, a maior parte do acervo original havia desaparecido, e parte passara integrar o acervo de instituições judaicas fora da Alemanha. Em 1988 foi anunciada uma competição anônima para um projeto de um novo museu judaico, que funcionaria como uma extensão do prédio barroco.
O projeto de arquitetura da extensão do Museu Judaico de Berlim, de Daniel Libenskind, foi considerado o único no processo seletivo que “implementou um projeto formal e radical, como uma ferramenta conceitualmente expressiva, para representar o estilo de vida judaico antes, durante e após o Holocausto”. O projeto final, um edifício em forma de zigue-zague, nasceu de uma deformação da Estrela de David, expandida em torno do terreno, onde ao lado se situa o prédio barroco. A construção é formada por três eixos, com base na experiência dos judeus na Alemanha: o Eixo do Holocausto, o Eixo da emigração e o Eixo da continuidade com a história alemã. Embora a extensão de Libenskind aparente ser uma edificação independente, o acesso é feito, através de uma passagem subterrânea, pelo prédio de estilo barroco que abrigara o museu original e o Museu de Berlim, e que atualmente faz parte do complexo do Museu Judaico.
Bom saber, Ruben,
de movimentos libertários.
Um abraço,
Luiz Fernando
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