Por Ruben Rosenthal
Roger Waters se junta assim a tantos outros críticos do governo autocrático e pró-nazista de Volodymyr Zelensky que tiveram seus nomes incluídos na lista, vários dos quais já foram assassinados.

O músico de rock faz parte agora da extensa relação de pessoas que estão listadas como inimigos na Ucrânia no site Mirotvorets (Pacificador, em ucraniano), segundo artigo da jornalista Deborah L. Amstrong* no Medium.com. Também fazia parte da lista, Darya Dugina, a filha do polêmico filósofo russo Alexander Dugin, recém assassinada em um atentado quando uma bomba explodiu seu carro. Agora, na foto de Dugina consta uma tarja vermelha com a palavra ЛИКВИДИРОВАН, o termo ucraniano para LIQUIDADA.
O mesmo ocorreu com o jornalista italiano Andrea Rocchelli, que morreu em maio de 2014, juntamente com o intérprete e jornalista russo Andrey Mironov, quando o carro em que estavam foi atingido por um morteiro na região separatista de Donetsk. Não está claro porque na ficha de Dugina consta a palavra NATO (OTAN), enquanto que na de Rochelli aparece CIA, a agência de inteligência dos EUA, conforme pode ser visto na montagem a seguir.
Mirotvorets, um site semi-oficial do governo ucraniano
Mirotvorets contém um banco de dados que lista milhares de jornalistas, ativistas e qualquer um que seja declarado como “inimigo da Ucrânia”. Informações pessoais são publicadas, assim como os endereços de suas casas, números de telefone e de contas bancárias; qualquer dado que possa ajudar na localização dos “alvos”. O endereço IP do site foi rastreado até um servidor em Bruxelas, Bélgica.
O Departamento de Estado dos EUA confirmou que o Ministério dos Assuntos Internos ucraniano estava relacionado ao site, mas o governo norte-americano não tomou qualquer providência para bloquear o site, mesmo reconhecendo que foram publicados dados pessoais de jornalistas.
A lista inclui uma menina ucraniana de 13 anos, Faina Savenkova, que foi adicionada por falar publicamente contra a sangrenta guerra que Kiev impôs aos civis de língua russa no Donbass, na parte oriental da Ucrânia. Já o cineasta Igor Lopatonok foi adicionado devido a um filme em que trabalhou com Oliver Stone.
Surpreendentemente, até Henry Kissinger, que uma vez sugeriu jogar bombas nucleares em Moscou, teve seu perfil incluído no Mirotvorets, como “inimigo da Ucrânia”, por ter expressado preocupação pela forma como os EUA estavam marchando para uma guerra contra a Rússia e China.
Roger Waters se junta assim a tantos outros críticos do governo autocrático e pró-nazista de Volodymyr Zelensky que tiveram seus nomes incluídos na lista, vários dos quais já foram assassinados.
Roger Waters: “A Crimeia pertence à Rússia”
O músico cofundador do Pink Floyd é amado por milhões de fãs ao redor do mundo. Na política, Waters é um crítico mordaz do papel representado pela OTAN. Waters, que sempre foi uma espécie de dissidente e antiguerra, como todos os astros do rock costumavam ser.
Ele é conhecido por seu apoio a Julian Assange, criador do Wikileaks, que se encontra preso no Reino Unido e sob ameaça de ser extraditado em breve para os EUA. Recentemente, Waters se referiu a Biden na CNN como sendo um “criminoso de guerra”, e que Biden está “alimentando o fogo na Ucrânia”.
Waters acrescentou: “Esta guerra é basicamente sobre a ação da OTAN alcançando a fronteira russa, o que eles prometeram não fazer quando [Mikhail] Gorbachev negociou a retirada da União Soviética de toda a Europa Oriental”. E complementando: “A Crimeia pertence a Rússia, porque a maioria das pessoas que vivem na península são russas”.
Como seria de se esperar, as opiniões do astro do rock indignaram a malta pró-OTAN e os simpatizantes nazistas na Ucrânia, bem como os “guerreiros da justiça social”, campeões da liberdade que espumam pela boca em apoio aos temas encampados pela grande mídia, ressalta Deborah Amstrong .

Quem são os organizadores do Mirotvorets?
Uma investigação da Fundação Russa de Combate à Injustiça revelou nomes de indivíduos, corporações e entidades governamentais que se acredita serem os organizadores, patrocinadores e curadores do site nacionalista ucraniano.
O site é controlado pelo Serviço de Segurança da Ucrânia, e foi criado por iniciativa de Anton Gerashchenko, conselheiro do Ministro dos Assuntos Internos da Ucrânia. Gerashchenko enfrenta acusações de terrorismo na Federação Russa, pela criação da lista de alvos.
Os investigadores dizem que a lista foi criada em 2014, sendo supervisionada pela organização pública “Mirotvorets Center”, liderada por Roman Zaitsev, um ex-funcionário dos serviços especiais ucranianos, e pela organização pública “Retaguarda do Povo”, liderada pelo político ucraniano, George Tuka.
Em seus primórdios, o site publicou os nomes dos chamados “separatistas russos” (residentes do leste da Ucrânia), que se opunham ao golpe de Maidan que afastou o presidente Viktor Yanukovych, que ousara fazer um acordo econômico com a Rússia, em detrimento da União Europeia.
O site passou então a publicar os dados pessoais de figuras públicas, jornalistas, ativistas e até de crianças. Mirotvorets tornou-se infame após o assassinato de duas figuras públicas ucranianas em 2015: o escritor e jornalista Oles Buzina e um deputado ucraniano foram mortos dias após seus endereços residenciais serem publicados.
Em maio de 2016, Mirotvorets divulgou os dados pessoais de mais de 4.500 jornalistas e representantes da mídia de todo o mundo, que haviam recebido permissão para trabalhar no território de Donbass. Os administradores do Mirotvorets teriam invadido o banco de dados do Ministério da Segurança de Estado da República Popular de Donetsk, onde coletaram números de telefone, endereços de e-mail e residenciais de jornalistas estrangeiros acusados de “colaborar com terroristas”, por estarem cobrindo a guerra em territórios sob controle dos rebeldes.
Os jornalistas passaram então a receber telefonemas e e-mails ameaçadores, além de assédio nas redes sociais. O governo da Ucrânia emitiu uma declaração de que não havia encontrado violações da lei nas ações praticadas pelo site.

Norte-americanos colaboram com Mirotvorets
Uma análise do protocolo de rede pela Fundação Russa de Combate à Injustiça descobriu que o banco de dados do Mirotvorets usa os serviços tecnológicos de uma empresa na Califórnia. Na página principal do site consta o endereço “Langley County”, Virginia. Coincidentemente, a sede da CIA fica no condado de Langley. Há postagens de contas contendo nomes de diversas agências de inteligência ocidentais: CIA, FBI, OTAN, MI5 e NSA.
Andrew Weisburd, um analista de inteligência norte-americano, anunciou publicamente sua cooperação com o governo ucraniano em janeiro de 2015, na época em que Mirotvorets começou a publicar os dados pessoais dos jornalistas. Weisburd declarou: “Estou apenas tentando fazer a minha parte, para ajudar a fazer coisas ruins acontecerem com pessoas más que estão a serviço do Kremlin”.
Joel Harding é outro norte-americano que esteve envolvido com a formação do Mirotvorets, segundo o jornalista investigativo George Eliason, que vive no Donbass há vários anos e escreve para o Consortium News. Harding é um autoproclamado “especialista em operações de informação”, que diz ser ex-oficial de inteligência do Exército dos EUA e ter atuado como conselheiro sênior na OTAN. Ele desenvolveu também uma estratégia de apoio cibernético para barrar o acesso à mídia russa na Ucrânia. De acordo com Eliason, Harding queria controlar quais notícias e informações os ucranianos poderiam acessar nas redes sociais, internet e televisão.
Ao investigadores da Fundação dizem ter evidências que conectam Mirotvorets a um grupo de ativistas cibernéticos conhecidos como “Ciberaliança Ucraniana”. O grupo é acusado de participar, desde 2016, de ataques a sites de notícias e do governo russo, incluindo o Ministério da Defesa.
As finanças do Mirotvorets
Através de financiamento coletivo, Mirotvorets recebe considerável assistência financeira de doadores anônimos do Ocidente, asseveram os investigadores da Fundação. Os patrocinadores mais prováveis são nacionalistas ucranianos que vivem no exterior, e pessoas associadas a agências de inteligência ocidentais que têm acesso a enormes quantias de dinheiro dos contribuintes.
Embora os programadores digam que receberam apenas alguns milhares de dólares, os dados sobre transações relacionadas às carteiras cripto do grupo indicam o recebimento de mais de 100 mil dólares.
Paralelamente aos atentados e intimidações aos opositores do governo de Kiev, prosseguem os conflitos bélicos que opõe OTAN e Rússia, até que ao Ocidente não mais interesse pagar o preço econômico de bancar a Ucrânia nesta guerra por procuração. A hora da verdade poderá chegar junto com o inverno europeu.
Ruben Rosenthal é professor aposentado da UENF, e responsável pelo blogue Chacoalhando.
*Deborah Armstrong atualmente escreve sobre geopolítica, com ênfase na Rússia. Ela trabalhou anteriormente em noticiários de TV locais nos EUA, onde ganhou dois Prêmios Emmy. Logo antes da dissolução da União Soviética, no início da década de 1990, ela trabalhou como consultora de televisão em Leningrado.
Ótimo. Já estou passando adiante
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Um astro internacional do rock pode ser assassinado por seu ativismo político. Que mundo, quanta intolerância!
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