Julgamento de Assange: censurado o depoimento de testemunha torturada pela CIA, por Craig Murray 

A Corte Europeia de Direitos Humanos fez uso de telegramas vazados divulgados pelo Wikileaks, confirmando que Khaled el-Masri havia sido espancado, encapuzado, algemado e sodomizado

Varrendo a sujeira: sede da CIA em Langley, Estados Unidos \ Foto: J. Scott Applewhite/AP

No julgamento de Assange da sexta-feira dia 18, mais uma vez ficou evidenciada a farsa que vem sendo conduzida na Corte de Old Bailey pelos governos dos Estados Unidos e Reino Unido. O objetivo é conseguir a extradição do editor do Wikileaks, sem que sejam expostos os crimes de guerra cometidos por oficiais e agentes norte-americanos. Khaled el-Masri, uma das testemunhas arroladas pela defesa, foi impedido pela juíza Baraitser de participar da audiência . O depoimento foi lido pela Defesa, mas com várias partes previamente censuradas, principalmente as que mencionavam que el-Masri fora sequestrado e torturado pela CIA. 

O texto que se segue consiste de uma tradução comentada, por Ruben Rosenthal, de parte do extenso relato publicado por Craig Murray dos eventos daquela sexta-feira na Corte. O ex-embaixador do Reino Unido e ativista de direitos humanos foi uma das cinco pessoas que conseguiram um lugar permanente na galeria reservada ao público, e vem acompanhando todas as audiências do julgamento. 

A verdade censurada. O governo dos Estados Unidos se opunha fortemente a que el-Masri fosse ouvido pela Corte. Chegou-se então a um acordo, pelo qual a testemunha não poderia declarar que havia sido torturada pelos Estados Unidos. No entanto, na hora da audiência virtual ocorreu uma “providencial” falha na conexão do sistema de videoconferência de el-Masri. Ao invés de simplesmente adiar o depoimento, como decidira anteriormente em dois casos semelhantes de falha no equipamento, Baraitser colocou novamente em questão se o depoimento de el-Masri deveria ocorrer. 

O promotor James Lewis, representando o governo dos Estados Unidos, declarou que não ficava satisfeito apenas com a exclusão de qualquer menção de tortura no depoimento. Ele se opunha também a que fosse mencionado que Wikileaks expôs telegramas vazados, revelando que os Estados Unidos pressionaram o governo da Alemanha para que os responsáveis pelo que ocorrera com Khaled el-Masri não fossem detidos. Segundo Lewis, tal pressão não existira. 

Pela Defesa, Mark Summers disse que a Câmara Suprema da Corte Européia, em Estrasburgo, já havia julgado que tais fatos eram verdadeiros e que os telegramas revelados pelo Wikileaks mostraram claramente e sem contestação, que o governo dos Estados Unidos exercera pressão na Alemanha. A juíza Baraitser declarou que não iria determinar se tal pressão existira ou se el-Masri havia sido torturado: “estas não eram questões colocadas diante dela”. 

Mark Summers disse que estes pontos tinham relação com (demonstrar) que o Wikileaks havia (de fato) realizado uma ação necessária para prevenir crimes pelo governo dos Estados Unidos, e possibilitar que a justiça fosse feita. Lewis respondeu que era inaceitável para o governo norte-americano que alegações de tortura fossem levantadas. 

Neste momento Julian Assange ficou bastante agitado. Ele ficou de pé e declarou em voz alta: “Eu não permitirei que o testemunho de uma vítima de tortura seja censurado por esta Corte”. Irrompeu então uma grande comoção. 

Baraitser ameaçou remover Assange e prosseguir a audiência sem ele. Houve então uma pausa, após a qual foi anunciado que el-Masri não mais apareceria pelo sistema de videoconferência. Ao invés, seria lida uma essência de seu depoimento, mas excluindo detalhes de tortura pelos Estados Unidos e da pressão exercida sobre o governo da Alemanha. 

O advogado de defesa Mark Summers lê o depoimento da testemunha. “Khaled el-Masri, de origem libanesa, chegou na Alemanha em 1989 e se tornou cidadão do país. Em janeiro de 2004, após um feriado em Skopje (capital da Macedônia) ele foi retirado de um ônibus na fronteira da Macedônia, sendo mantido incomunicável pelas autoridades macedônias, maltratado e espancado. Em 23 de julho ele foi levado ao aeroporto de Skopje e entregue a agentes da CIA. Ele foi espancado, algemado, encapuzado e sodomizado. Suas roupas foram arrancadas e o vestiram com uma fralda, para então  colocá-lo no piso de um avião, algemá-lo em posição de cruz, e aplicar uma injeção para deixá-lo inconsciente”. 

“Khaled acordou no Afeganistão, e foi mantido incomunicável em uma cela de concreto cru, com um balde para toalete. Lá ele foi mantido por seis meses e interrogado durante este tempo [os detalhes da tortura não puderam ser ditos por Summers]. Em junho ele foi levado de avião para Albânia, conduzido de carro com os olhos vedados até uma montanha remota, e largado lá. Quando retornou a Alemanha, sua mulher e filhos haviam partido”. 

“Quando (Khaled) tornou esta história pública, ele foi sujeito a uma série de acusações cruéis, que atacavam seu caráter e credibilidade, com alegações de que ele inventara tudo. Ele acredita que o governo (alemão) buscava silenciá-lo. Ele procurou um advogado, e eventualmente conseguiu contatar (John) Goetz, da TV Pública, que além de provar que a história era verdadeira, conseguiu localizar na Carolina do Norte os agentes da CIA envolvidos, e mesmo entrevistar alguns deles”. 

“Em função disto, promotores de Munique emitiram mandados de prisão para os sequestradores da CIA, mas que nunca foram efetivados. Quando Wikileaks revelou os telegramas diplomáticos (vazados por Chelsea Manning) ficou evidenciado que o governo alemão havia sido pressionado para ir adiante com as detenções”. [A juíza não impediu que Summers dissesse isto, mesmo tendo estipulado anteriormente que o assunto não deveria ser mencionado na Corte]. 

“Sabemos então que os Estados Unidos bloquearam a investigação judicial de um crime. A Corte Europeia de Direitos Humanos explicitamente fez uso de telegramas (vazados) divulgados pelo Wikileaks, como parte de seu julgamento do caso, confirmando que Khaled el-Masri havia sido espancado, encapuzado, algemado e sodomizado”. 

“Nos Estados Unidos ninguém foi responsabilizado. O inspetor geral da CIA nada fez. A documentação da Corte Europeia de Direitos Humanos foi enviada para o Procurador dos Estados Unidos no Distrito Leste de Virgínia – exatamente o mesmo escritório que está agora tentando extraditar Assange – e que se recusou a processar os agentes da CIA envolvidos”. 

“Foi feita uma reclamação ao Tribunal Penal Internacional, anexando o material da Corte Europeia e do Wikileaks. O TPI anunciou que estava abrindo uma investigação. Em resposta, o secretário de estado Mike Pompeo declarou que qualquer cidadão não norte-americano que colaborasse com a investigação do TPI, inclusive funcionários do TPI, ficaria sujeito a sanções financeiras, dentre outras”. 

Summers concluiu: “el-Masri testemunhou (por escrito) que a publicação do Wikileaks fora essencial para que houvesse a aceitação de que ele dissera a verdade, e que tinha ocorrido uma tentativa de encobrir os fatos”. 

Segundo Craig Murray, a leitura do depoimento de el-Masri por Mark Summers causou imenso impacto na Corte. Vanessa Baraitser pareceu “emocionalmente abalada” durante o relato do que se passara com Khaled. E complementou: “afinal ela é apenas humana, e esta é a primeira vez em que foi forçada a lidar com o que este caso realmente se trata”. 

Notas do Tradutor:

1. Der Spiegel publicou uma matéria em 2010, de autoria de Matthias Gebauer e John Goetz, que mostrou como o governo alemão cooperou com os Estados Unidos, ao não processar os treze agentes que tiveram envolvimento no sequestro Khaled el-Masri.

Ruben Rosenthal é professor aposentado da Universidade Estadual do Norte Fluminense e responsável pelo blogue Chacoalhando.

Julian Assange é submetido a maus tratos para levá-lo à morte por suicídio, real ou forjado, por Craig Murray

Murray faz um alerta que autoridades britânicas estão propositadamente submetendo Julian Assange à condições de tortura que podem levá-lo ao suicídio, ou mesmo, pretendendo eliminá-lo.

Fila woolwich court
Fila inicial na entrada na Corte de Woolwich, para o julgamento de Assange na Corte de Belmarsh / Reprodução

O atual artigo é tradução do texto de autoria de Craig Murray1, “A Caixa de Vidro Blindado é um Instrumento de Tortura” (The Armoured Glass Box is an Instrument of Torture).

Na audiência em separado na quinta feira, para tratar da questão de Assange poder ficar sentado junto a seu grupo de advogados, ao invés de ser obrigado a ficar na caixa de vidro à prova de balas, pude testemunhar diretamente que a decisão de Baraitser contrária a Assange, foi preparada por ela antes do conselho de Defesa colocar seus argumentos, e levada à Corte sem sofrer qualquer modificação.

Vou começar, explicando a minha posição na galeria do público, em relação à juíza. Durante toda a semana sentei propositadamente em um assento à direita, na galeria. A galeria possui um vidro blindado frontal, e se situa a uma altura de 2 metros acima do recinto da corte. Ela dá para um lado da Corte, sendo que a parte mais a direita, fica acima da bancada do juiz, que se senta na perpendicular. É notável que dos assentos à direita da galeria pode-se ter uma visão ininterrupta do topo de toda a bancada do juiz, incluindo os papéis e a tela do computador.

O advogado de defesa, Mark Summers, ressaltou que no caso “Belousov vs Rússia”, a Corte Européia de Direitos Humanos decidiu contra a Rússia, porque durante o julgamento, Belousov ficou em uma cela de vidro, de construção praticamente idêntica à que Assange permaneceu. Isto prejudicou a participação de Julian durante o julgamento, e seu livre acesso aos advogados, além de privá-lo de dignidade humana, como réu.

Summers salientou que era prática habitual, certas categorias de prisioneiros não condenados, serem liberados do banco dos réus, para sentarem junto a seus advogados. A Corte tinha relatórios psiquiátricos da extrema depressão clínica de Assange, e o guia de melhores práticas do Departamento de Justiça do Reino Unido estabelece que pessoas vulneráveis devem se sentar junto a seus advogados. Não se estava solicitando tratamento especial para Assange, e sim que ele fosse tratado como qualquer outra pessoa vulnerável.

A Defesa foi impedida  de se comunicar confidencialmente com seu cliente durante os procedimentos. No próximo estágio do julgamento, quando as testemunhas serão ouvidas, é essencial a comunicação no momento correto.

Além disto, se os advogados só puderem falar com ele através da fenda no vidro, na presença de microfones, suas conversas poderão ser ouvidas pelos agentes da empresa privada de segurança  que estão vigiando Assange.  Foi esclarecido que os agentes são da Serco, e não do Grupo 4, como Baraitser havia dito no dia anterior.

A magistrada ficou de mal-humor, e falou com uma voz cortante, perguntando sarcasticamente à Summers: “Quem são aquelas pessoas sentadas atrás de você?”. Tratava-se de uma pergunta para a qual ela sabia perfeitamente a resposta. Summers respondeu que eles faziam parte do time legal da Defesa, a que Baraitser replicou que Assange poderia fazer contato com eles, caso precisasse repassar algum ponto.  

Summers respondeu que havia a mureta (abaixo do vidro blindado) e um corredor, separando a cela dos assentos e pessoal da Defesa. Tudo o que Assange podia ver de onde estava, era a parte de trás da cabeça de seus advogados. Baraitser disse então que Assange poderia chamar por eles. Summers replicou que não era confidencial nem satisfatório, gritar no recinto da Corte.

foto de assange no tribunal
Assange e agente de segurança na cela de vidro blindado / Le Grand Soir

A foto incluída (já mostrada em artigo anterior),  foi tirada ilegalmente – não por mim, e mostra Assange (em sua cela blindada) na Corte (demonstrando o ponto levantado por Summers).

Pode-se ver a mureta baixa de madeira e a (estreita) passagem entre ela e os assentos traseiros da equipe da Defesa (bem como as frestas no vidro). Pode-se também ver um dos oficiais da Serco dentro da caixa blindada, fazendo a vigilância de Assange.

Baraitser disse que Assange poderia passar notas, e que ela já o presenciou fazendo isto (pelas frestas).  Ela acrescentou que poderia levar o caso a Serco, pois era assunto para as autoridades prisionais.

Summers asseverou que, contrariamente ao que Baraitser declarou no dia anterior, ela realmente tem jurisdição na questão de liberar Assange do banco (cela) dos réus. Baraitser interveio para dizer que ela agora aceitava isto (grifo do tradutor).

Summers disse, em reposta, que ele havia apresentado (os pareceres de) uma série de autoridades, para mostrar que Baraitser também estava errada em dizer que “custódia” poderia apenas significar “ficar no banco dos réus”. Pode-se ficar sob custódia em qualquer lugar dentro da Corte, ou mesmo fora, acrescentou o advogado.

Baraitser ficou muito chateada com esta observação, e declarou que ela apenas tinha dito que “entregar (um acusado) à custódia da Corte é igual a deixá-lo no banco dos réus”. Summers, agora muito aborrecido, replicou memoravelmente: “Bem, isto também está errado, e esteve errado nestes últimos oito anos” (Assange ficou asilado por sete anos na Embaixada do Equador).

Encerrando a fase de argumentação, Baraitser proferiu seu julgamento na questão. Um ponto interessante, do qual eu sou uma testemunha direta, (pela visão privilegiada da bancada da juíza). Ela trouxe consigo para a Corte, um pacote contendo várias páginas escritas, e fez a leitura, sem fazer  qualquer emenda (ao que estava escrito). A juíza já havia tomado sua decisão antes de sequer escutar a Summers (pela Defesa).

Os pontos principais que ela colocou foram que Assange podia se comunicar com seus advogados, se gritasse a partir da caixa. Que ela tinha presenciado a passagem de notas por ele. Que estava disposta a adiar a Corte, a qualquer momento, para Assange poder se reunir a seus advogados nas celas, podendo levar o tempo que fosse necessário, mesmo que isto representasse estender a audiência por 3 a 6 semanas, .

Baraitser declarou que nenhum dos relatórios psiquiátricos a que teve acesso, estabeleceu que era necessário que Assange deixasse a cela blindada. Como a nenhum dos psiquiatras foi perguntado isto – e muito provavelmente nenhum deles sabia algo do leiaute da Corte – mal me surpreende (o parecer dos psiquiatras, considerou Murray).

Eu estive refletindo sobre qual o motivo de ser tão essencial para o governo britânico manter Assange naquela caixa, sem capacidade para escutar os procedimentos ou instruir seus advogados, em resposta à evidências (apresentadas pela Acusação), mesmo quando a governo dos EUA já disse que não tem objeção a que Assange ocupe um assento no interior da Corte.  

A resposta está no laudo psiquiátrico de Assange, entregue a Corte pelo renomado Professor Michael Kopelman, conhecido por quem leu o meu livro, Murder in Samarkand.

Para Kopelman: “O Sr. Assange apresenta, virtualmente, todos os fatores de risco que pesquisadores de Oxford descreveram em prisioneiros que, ou se suicidam, ou fazem tentativas letais….Eu estou certo, como psiquiatra, que se a extradição  para os Estados Unidos se tornar iminente, o Sr. Assange pode encontrar uma forma de cometer suicídio.”

 O fato de Kopelman não ter especificamente declarado, que a caixa de vidro blindado é ruim para Assange, não representa nada além do fato que a ele, não foi feita esta pergunta. Qualquer ser humano, minimamente decente, seria capaz de fazer a associação.  

A colocação estreita de Baraitser, de que o psiquiatra não havia especificamente asseverado que Assange deveria ser liberado da caixa blindada, é tremendamente insensível, desonesta e desumana. É quase certo que psiquiatra algum iria conceber que a juíza se posicionasse a favor de impor tal tortura.

Por que Baraitser está fazendo isto? Eu acredito que um intelectual nerd em computação como Assange, ser confinado ao estilo de Hannibal Lector (o personagem canibal, magistralmente impersonado no cinema por Anthony Hopkins), sem qualquer base racional, se trata de uma ação deliberada para levar Assange ao suicídio. A Corte anti-terrorista de segurança máxima está fisicamente dentro do complexo fortificado, que abriga uma prisão de segurança máxima.

Julian é trazido algemado e sob forte escolta, de sua cela solitária para a cela blindada da Corte, através de um túnel, o mesmo se repetindo no retorno. Nestas circunstâncias, que necessidade poderia haver para ele ser desnudado, e ter suas cavidades continuamente revistadas? Por que a ele não é permitido ter seus papéis na Corte? O mais revelador para mim, foi é o fato de que ele não é autorizado a apertar às mãos, ou ter contato físico com seus advogados através das frestas na caixa blindada.  

Eles então, implacavelmente, impondo a negação sistemática de qualquer conforto humano básico, como o toque de dedos entre amigos, ou bloqueando o alívio que ele poderia ter por apenas estar ao lado de alguém amigável. Eles estão se assegurando da continuação dos extremos efeitos psicológicos do isolamento, decorrentes de um ano de virtual confinamento em solitária.

Um pouco que fosse de conforto humano, poderia fazer um enorme bem a seu estado mental e resiliência. Eles estão determinados a não permitir isto a qualquer custo. Eles estão tentando fazer com que Julian se mate, ou criar as condições para que uma morte por estrangulamento, possa ser explicada como suicídio (grifo do tradutor).

Esta é também a única explicação que posso pensar sobre porque eles estão se arriscando em criar tão óbvias condições indecentes. Mortos não podem apelar (à Suprema Corte).

Eu gostaria de lembrar que Julian está em prisão preventiva, tendo cumprido à uma longa sentença, sem precedente, por violação da fiança. Seu atual status é, supostamente, o de um homem inocente enfrentando acusações. Estas acusações são por nada além de publicar as revelações de Chelsea Manning (então Bradley Edward Manning) sobre crimes de guerra.

Para mim, parece certo que Baraitser está atuando sob instruções. No decorrer do julgamento, ela tem desesperadamente aproveitado qualquer oportunidade, para negar ter responsabilidade pelo que está acontecendo com Julian.

Ela tem declarado não ter jurisdição sobre o tratamento por ele recebido na prisão. Mesmo quando, tanto Defesa como Acusação, se juntaram para declarar que era prática normal de magistrados, transmitir instruções ou pedidos ao serviço prisional, ela se recusou a aceitar desta forma.

Baraitser está claramente tentando se distanciar, psicologicamente, de qualquer ação que está ocorrendo. Para este fim, ela fez uma série de negativas de responsabilidade de jurisdição ou de sua capacidade de influenciar os eventos.

Disse que não tinha jurisdição em interferir com as (frequentes) revistas íntimas, algemas, e remoção dos papéis de Assange, ou por ele ser mantido em confinamento na solitária. Disse também, que não tinha jurisdição para requerer que os advogados de Defesa pudessem ter maior acesso ao cliente na prisão, para o preparo da argumentação.

E disse ainda, não ter jurisdição sobre a local de Julian ficar no recinto da Corte. A magistrada sugeriu, várias vezes, que cabia ao Serco decidir se Julian poderia passar anotações a seus advogados, e ao Grupo 4, decidir se (o acusado) poderia ser liberado da caixa blindada.

Os momentos em que ela (visivelmente) demonstrou mais contentamento, foram ao escutar James Lewis, o advogado de acusação, argumentar que ela (Baraitser) não tem outra decisão a tomar, senão concordar com a extradição, porque está em bom formato (jurídico), e que o Artigo 4 do Tratado de Extradição Reino Unido/Estados Unidos não tem validade legal.

Um membro da família Assange me disse, ao final desta semana inicial (do julgamento), que Baraitser parece muito preguiçosa, e, por este motivo, bem satisfeita em aceitar qualquer argumento que reduza o que ela precise fazer. Eu penso de forma diferente.  

Acredito que deva existir um cantinho na mente desta filha de dissidentes do apartheid (da África do Sul), que rejeita seu próprio papel na tortura de Assange, e que está continuamente insistindo: “Eu não tive escolha, eu não tive atuação”. Aqueles que sucumbem ao mal, procuram (se enganar, com) qualquer conforto que puderem conseguir.

Notas do tradutor: 

1. Craig Murray, blogueiro, escritor e ativista pela independência da Escócia, foi diplomata e embaixador do Reino Unido, além de reitor da Universidade de Dundee.

2. Informações explicativas  pelo tradutor foram colocadas em parênteses.

Ruben Rosenthal é professor aposentado da Universidade Estadual do Norte Fluminense, responsável pelo blogue Chacoalhando.